LINHA DE PARTIDA
Olá! Obrigada por seres uma das primeiras pessoas, de sempre, a ouvir falar sobre a Maratona, que costumamos apresentar como “a nossa associação cultural recém-criada”. Temos a certeza de que há um limite temporal para o que é recente e estamos ainda mais certas de o ter ultrapassado. É que, apesar de só agora estarmos a apresentar este projeto ao mundo e de esta ser a primeira newsletter que escrevemos, a Maratona faz um ano hoje.
Há precisamente um ano, a chamada comissão instaladora desta associação dirigiu-se à Rua João das Regras, que é o nome perfeito para a localização do Primeiro Cartório Notarial de Competência Especializada do Porto. Éramos três e estávamos em diferentes situações de urgência e caos: uma primeira pessoa com pressa de ir embora para, literalmente, apanhar um comboio com destino a outra cidade; uma segunda pessoa com vontade de finalizar o processo o mais rapidamente possível, para não faltar a um compromisso laboral noutra morada (para o qual se atrasou); e uma terceira pessoa presa no carro, no trânsito, enquanto a escritura de constituição da associação começava a ser redigida e transmitida aos presentes num computador fixo apoiado numa resma de papel.
Apesar dos contratempos, a Maratona nasceu oficialmente a 6 de novembro de 2023. E, hoje, a 6 de novembro de 2024, temos realmente umas quantas novidades para partilhar contigo.
Desde logo, a celebração deste primeiro ano. No dia 15 de novembro, sexta-feira, no Fisga Warehouse (na Rua de Santos Pousada, no Porto), vamos brindar à Maratona com «um drink de fim de tarde». Linha de partida é uma festa de aniversário que é, ao mesmo tempo, uma festa de lançamento, que é, ainda, uma palestra performativa. A entrada é livre, dispensa reservas ou inscrições e é aberta a quem queira conhecer-nos ou comemorar connosco, a partir das 19h00.
A segunda novidade é que vamos estar no FIS - Festival de Artes Performativas a Solo ainda este mês. Temos uma residência de criação, no âmbito do Festival, entre 21 e 24 de novembro, para o espetáculo Obrigada por terem vindo, mas aproveitamos a nossa estadia na Póvoa de Varzim de outras maneiras.
No dia 23, vamos dinamizar a Oficina de Escrita “Dictafone”, entre as 15h e as 17h, no Cine Teatro Garrett, para jovens e adultos a partir dos 15 anos. As inscrições estão abertas através do email info@fis.pt e encontras mais informação aqui.
No dia seguinte, 24 de novembro, novamente às 15h e novamente no Cine Teatro, vamos participar na Conversa “Criação a solo” vs “Criação de um solo”, juntamente com os artistas Maria Olas, Vítor Silva e Uatumã Fattori e com moderação de Bruno Martins. A entrada é gratuita, para todos os públicos e o que este link não diz é que poderás ver-nos, ao vivo, a lidar com as vozes interiores que nos garantem que não temos nada de pertinente a acrescentar a um painel como este!
ISTO NÃO É UMA COMPETIÇÃO
Sabemos que a internet está cheia de sugestões culturais, de livros, filmes, séries e álbuns, mas achamos que o teatro e as artes performativas costumam, frequentemente, ficar fora dessas listas. E podemos até ser a Maratona, mas não temos vontade de competir. Neste segmento da nossa newsletter, recomendamos espetáculos dos nossos pares, artistas ou coletivos jovens, que vimos e de que gostámos ou que temos muita vontade de ver.
No mês que vem, dia 1 de dezembro, às 20h00, no Espaço Alkantara, será transmitido pela primeira vez o documentário de Heverton Harieno sobre “Blackface”, de Marco Mendonça, uma das nossas peças preferidas dos últimos tempos. Para quem está em Lisboa, esta será uma oportunidade para saber mais sobre o processo de criação do espetáculo, através de imagens acumuladas ao longo de meses de trabalho.
Também em dezembro, tem estreia marcada para dia 12, na Sala de Bolso, em Miragaia, aquela que achamos ser a primeira encenação a solo de Pedro Quiroga Cardoso. Veroeste, de Sam Shepard, com interpretação de Ângela Marques, Daniel Silva, João Cardoso e Pedro Galiza, é a nova produção da ASSéDIO sobre a qual se sabe ainda muito pouco mas o suficiente para nos alimentar a curiosidade.
Não seria coerente se uma primeira newsletter, quase toda sobre começos, não celebrasse também primeiras encenações!
AGRADAR A GREGOS: MARATONA, TEATRO E… FILOSOFIA?
Já que unimos, através do nome que escolhemos dar à nossa associação, a Maratona ao Teatro, duas heranças da Antiga Grécia, porque não darmo-nos ao luxo de uma terceira? A filosofia, na sua origem, procurava explicar o mundo, dedicando-se - resumidamente - a pensar sobre ele. Neste segmento, assumindo as nossas vozes individuais, pensamos e escrevemos brevemente sobre temas que cruzaram os nossos mundos.
Foi graças a um livro que não comprei que descobri a história de Shoji Morimoto: segundo as manchetes, o homem japonês que é pago para não fazer nada. Aparentemente, ter sido repreendido no trabalho por “não fazer nada” inspirou-o a transformar este “nada” numa carreira de sucesso. Recusa-se a construir relações de amizade com os clientes, mas é pago para jogar, ir às compras, dividir uma refeição, por aí fora. Pode não fazer nada em particular, à partida, mas Shoji Morimoto faz muita coisa. Ao decidir “alugar-se a si próprio”, tornou-se freelancer e todos sabemos como os trabalhadores independentes são das pessoas que mais trabalham no planeta.
Alguns artigos dizem que Morimoto ajuda os clientes a combater a solidão; por outro lado, o próprio diz que utiliza o seu trabalho para questionar uma sociedade que sobrevaloriza ser-se produtivo. O que me irrita é que (1) a imagem deste homem está a ser vendida como a de um empreendedor e todos sabemos que o empreendedorismo é a cabeça de cartaz da produtividade. Ele navega essa onda, dá entrevistas e até escreveu o tal livro que eu não comprei. Ou seja, o “do-nothing guy” tornou-se lucrativo e obter lucro é o objetivo principal da sociedade que ele queria questionar. (2) Estamos tão cansados desta roda-viva em que nos movimentamos que acabamos inevitavelmente a ler estes artigos e a desejar trabalhos que nos permitam a imobilidade. Não vai há muito que os cabeçalhos eram sobre o emprego mais fácil do mundo - a NASA pagava pela experiência de “repouso absoluto” de se ficar deitado durante 70 dias - e esse passou a ser o sonho de muita gente. Mas quando não é absoluto, não valorizamos o repouso tanto quanto devíamos. E (3) há outras formas de trabalho independente que combatem a solidão dos clientes desde sempre (há até quem lhe chame a profissão mais antiga do mundo), mas como as pessoas que o exercem não têm a cara do capitalismo, os títulos das notícias são sempre outros.
Mariana
E assim nos despedimos. Não queremos prometer uma regularidade exata para receberes esta newsletter, porque ela só fará sentido quando tivermos novidades. De qualquer maneira, podes ir acompanhando a atividade da Maratona e os planos para o futuro através do nosso site e instagram. Se nos leste até aqui e se te apetecer, escreve-nos de volta e teremos todo o gosto em retribuir a leitura.
É só um até já! Para perceberes a utilização deste cliché, encontramo-nos no dia 15 de novembro, no Fisga Warehouse.